O microplástico proveniente das tuas roupas é um problema de poluição complexo mas que tu podes ajudar a minimizar. Talvez fiques surpreendida, mas existe uma grande probabilidade de a roupa que estás a usar hoje ser feita a partir de plástico. Se olhares para o teu armário, muito provavelmente a maioria das tuas peças de roupa é de poliéster, nylon, acrílico ou elastano, entre outros materiais sintéticos.
Plástico = durabilidade e versatilidade
O surgimento do plástico mudou as nossas vidas, para o bem e para o mal. Se, por um lado, criámos um material com excelente durabilidade, maleabilidade, leveza e baixo custo, ou seja, um material extremamente versátil, por outro lado, criámos esta cultura do descartável e eliminámos este factor de durabilidade usando uma vez e deitando fora. Este comportamento está por todo o lado e já se reflecte no nosso meio ambiente, nomeadamente, nos mares e oceanos. Embora considere extremamente importante alertar para esta situação e mudar de comportamento, acho igualmente importante falar do plástico que habita nos nossos guarda-roupas, algo que não é muito falado e que também está a ter consequências ambientais graves.
O problema
Digo muitas vezes que uma grande parte da sustentabilidade da nossa roupa está na forma como cuidamos dela em casa e é algo em que acredito verdadeiramente. Sempre que lavamos roupa sintética, há uma potencial libertação de mais de 700 mil microfibras, sendo que grande parte destas não é captada nem pelas nossas máquinas de lavar nem pelas ETAR por terem um tamanho demasiado reduzido. Estas microfibras são, por isso, libertadas diretamente no ambiente e, para além de actuarem como esponjas, absorvendo toxinas, também são nocivas para a vida marinha que as confunde com comida. Isto significa que, eventualmente, estas micro-partículas de plástico entram na nossa cadeira alimentar, sendo que já há estudos que determinaram a presença de plástico na água que bebemos ou nos alimentos que consumimos.
Imagina agora quantas pessoas não lavam roupa sintética diariamente e o número de peças de roupa que temos nos nossos armários. Imagen Napper
É um pouco assustador pensar que estamos a contribuir para este problema tão grave sem sequer nos apercebermos. Mas a verdade é que se estima que entre 15% a 31% do plástico encontrado nos oceanos seja proveniente de fontes primárias, como as fibras libertadas durante a manutenção da nossa roupa e que a maioria das perdas de plástico ocorre principalmente durante a utilização e manutenção dos produtos (como é o caso da lavagem da roupa).
Para resolver este problema de poluição, é necessária uma abordagem que envolva todos os intervenientes do processo – desde as empresas que criam os têxteis e as fibras têxteis, que podem criar tecidos que libertem menos microfibras, passando pelo designer das peças de roupa, pelo designer das nossas máquinas de lavar, que pode instalar filtros que sejam capazes de captar estas microfibras, pelas infra-estruturas de água, cuja eficiência de tratamento deve ser melhorada, até ao consumidor, que pode alterar alguns comportamentos para minimizar este problema.
E é aqui que tu e eu entramos. Enquanto consumidoras, tu e eu temos o poder de mudar comportamentos mas também a responsabilidade de cuidar o melhor possível das peças que trazemos para casa. Não basta achar que o problema está nas cadeias de fast-fashion que enchem as lojas de roupas feitas a partir de materiais sintéticos, há sempre algo que podemos fazer para ajudar.
E já sabes que eu adoro dar-te dicas e hoje não poderia ser diferente. Em seguida dou-te algumas dicas relativamente ao que TU podes fazer enquanto consumidora. READY?
8 dicas para reduzires o microplástico
DICA 1 – Compra menos
A primeira dica não podia deixar de estar relacionada com a nossa velocidade de consumo. Se reduzirmos o nosso consumo de roupa, vamos ter menos peças para lavar.
Lê também o artigo “Os 7 Rs da slow fashion: como contribuir para uma moda mais consciente”
Dica 2 – Opta por materiais de fibras naturais
Se efectivamente precisares ou quiseres comprar uma peça de roupa, opta por tecidos naturais e que não contenham plástico, como o tencel, linho, cupro, entre outros.
Dica 3 – Lava a tua roupa menos vezes
Muitas vezes as nossas peças só precisam de arejar, pelo que não é necessário lavar todas as peças sempre que as usamos (salvo algumas excepções, claro). O que eu faço é colocar a roupa no estendal a arejar e, quando reparo numa nódoa, tento lavar só aquela parte da peça, ao invés de colocar logo a roupa na máquina para lavar. A Ana da marca Baseville deu uma dica que nunca mais esqueci relativamente às calças de ganga: se quiseres lavar as calças apenas por uma questão de cheiro, coloca-as no congelador porque o frio elimina algumas bactérias e coloca outras no estado de latência. Achei o máximo esta dica!
DICA EXTRA: se tiveres dificuldade em espaçar as lavagens da tua roupa porque gostas do cheirinho a roupa lavada, usa um spray com água e uma colher de sopa de amaciador para borrifar a roupa e já está, a tua roupa fica a cheirar bem de novo!
Dica 4 – Lava a temperaturas baixas
Pelo que tenho lido, as temperaturas mais altas têm tendência a danificar mais a roupa o que, por sua vez, resulta numa maior libertação de fibras.
Dica 5 – Utiliza detergente líquido ecológico e menos quantidade
O detergente em pó faz mais fricção na roupa, resultando na libertação de mais fibras. Para além disso, utilizar um detergente biodegradável e com menos químicos vai ajudar a preservar as tuas roupas. Nesta matéria já experimentei as nozes de saponária e estou neste momento a experimentar o detergente de sabão natural da Ecox, já conheces? É uma marca que faz detergentes inovadores a partir de óleo alimentar usado, promovendo a economia circular. Estou a a-d-o-r-a-r!! Aquele cheirinho que fica na roupa faz-me voltar aos meus tempos de criança em que “roubava” roupa à minha mãe para ir lavar no tanque junto a minha casa. Belos tempos.
Dica 6 – Lava uma carga completa
Colocar a máquina a lavar apenas quando estiver cheia não é só ideal para poupares água e luz. Lavar com a máquina cheia significa também que a tua roupa sofre menos abrasão porque não há tanto espaço entre as peças, o que significa que a roupa vai libertar menos fibras nessa lavagem.
Dica 7 – Opta pelo estendal
Se tiveres espaço em tua casa, opta por secar a roupa ao ar ao invés de utilizar a máquina de secar. Caso tenhas mesmo de utilizar a máquina, quando limpares os resíduos da máquina, coloca os resíduos no lixo em vez de os lavares com água corrente. Assim ajudas a evitar que estes resíduos vão parar aos nossos mares e oceanos.
Dica 8 – Pondera comprar um produto para captar as fibras
Já existem no mercado alguns produtos para ajudar a combater este problema, nomeadamente o Guppyfriend e a Coraball.
O GuppyFriend é um saco para inserir as roupas sintéticas que queremos lavar na máquina da roupa. Ao utilizar este saco estás a diminuir as fibras sintéticas que se libertam para os rios e oceanos, minimizando o dano ambiental. As microfibras ficam retidas no saco e após a lavagem são retiradas e colocadas num frasquinho (uma vez que ainda não há uma solução para estes fibras), evitando assim que vão directamente para os cursos de água. Podes encontrar este saco à venda na loja da Mãe Natureza e também na Pegada verde.
A Cora Ball foi inspirada na forma como os corais filtram o oceano. Basta colocar a Cora Ball no tambor da máquina que a bola recolhe as microfibras. É um passo super simples que tem um impacto gigante lavagem após lavagem. Podes saber mais aqui.
Pelo que sei, as nossas máquinas de lavar não têm ainda filtros adequados para captar estas microfibras, embora tenha encontrado uma notícia sobre um filtro para recolher microplásticos de máquina de lavar roupa – o MicroCatch – que venceu o ClimateLaunchpad2019, a maior competição do mundo de ideias cleantech. Em Portugal, esta iniciativa é organizada pela UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto em parceria com a LIPOR – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto. É interessante descobrir que já estamos muito atentos a esta realidade e que estamos a pôr as mãos na massa para encontrar soluções.
Estudos consultados:
Primary Micro plastics in the Oceans : A Global Evaluation of Source